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Foto do escritorPortuguês Ibérico

Pratos internacionais de origem portuguesa

Atualizado: 11 de out.

Há 500 anos, o mundo testemunhou o início de uma era que moldaria o curso da história de forma irrevogável. Os Descobrimentos abriram portas para o fenômeno que hoje chamamos de globalização, e foi Portugal que liderou essa busca por novos horizontes. Os destemidos navegadores portugueses, com a sua ousadia e curiosidade inabaláveis, partiram em rumo ao desconhecido e inauguraram uma época de intercâmbio cultural que transformou a maneira como as pessoas em todo o mundo se alimentam.


A jornada dos portugueses começou por explorar o Norte de África, mas não parou por aí. Eles atravessaram o Atlântico e chegaram às Américas, expandindo a sua influência ainda mais. À medida que exploravam novos territórios, os portugueses eram responsáveis por uma série de intercâmbios culturais, que resultaram na fusão de tradições e estilos de vida de diferentes partes do globo.


Essa fusão teve um impacto profundo na alimentação. Antes desse período, as pessoas sustentavam-se principalmente com ingredientes locais, muitos dos quais eram desconhecidos em outras regiões. No entanto, por volta do ano 1500, o comércio de especiarias iniciado pelos portugueses trouxe uma revolução gastronómica. As malaguetas do Novo Mundo foram introduzidas na Ásia, as batatas nativas da América do Sul tornaram-se um produto de destaque em diversas partes do planeta, os citrinos asiáticos tornaram-se ícones na Europa, e o milho, importado para várias partes do continente africano, tornou-se uma das principais plantações desse continente.


Além disso, a rota marítima estabelecida pelos portugueses para a Índia tornou as especiarias asiáticas amplamente disponíveis na Europa e no mundo ocidental, enriquecendo a culinária de maneiras inimagináveis. Os portugueses não apenas introduziram ingredientes exóticos em diferentes partes do mundo, mas também influenciaram a forma como esses eram preparados e combinados.


A influência culinária dos portugueses transcendeu as fronteiras nacionais, e muitos pratos que agora associamos a diferentes regiões do mundo têm raízes lusitanas. De facto, a herança gastronómica portuguesa é vasta e diversa, e as suas técnicas culinárias e preferências de sabores continuam a ecoar na comida que apreciamos hoje em dia. Assim, quando degustamos pratos que consideramos típicos de determinadas culturas, é importante lembrar que, em muitos casos, eles têm origens profundamente enraizadas na história dos descobrimentos portugueses, que abriram um novo mundo de sabores e possibilidades.


1 - Tempura

Quando os comerciantes portugueses tentaram estabelecer-se em solo japonês, não só buscaram negócios lucrativos, mas também levaram consigo a religião católica, acompanhados por missionários jesuítas com a missão de disseminar a fé. Seguindo as tradições católicas, a carne era evitada às sextas-feiras. Na tentativa de tornar os vegetais crus e o peixe mais apetitosos e substanciais ao paladar, os portugueses desenvolveram uma técnica peculiar: passavam-nos por polme e fritavam esses alimentos.

tempura

Em Portugal, essa prática era particularmente comum com feijões verdes, um prato que perdura na culinária caseira e em restaurantes tradicionais por todo o país: os famosos "peixinhos da horta". Os dias de jejum eram conhecidos em latim como "tempora", o que explica de maneira simples a origem do nome "tempura". Parece que a versão japonesa é bem mais fácil de pronunciar do que a nossa, não é?

Não há dúvidas de que os japoneses aprimoraram a arte da tempura, tornando-a mais leve e crocante do que a versão portuguesa e aplicando-a a uma variedade de alimentos, para além dos vegetais. No entanto, é inegável que Portugal foi o lugar onde tudo começou, deixando a sua marca na história culinária e contribuindo para a riqueza da gastronomia internacional.



2 - Feijoada

A feijoada, comumente identificada como um prato nacional do Brasil, tem as suas raízes no interior de Portugal. Este reconfortante guisado de feijão e diversos tipos de carne, perfeito para os dias de inverno, remonta à época do Império Romano.

Há mais de dois mil anos, os romanos que se estabeleceram na Península Ibérica popularizaram a prática de cozinhar feijões em conjunto com carne de porco. Esse guisado saboroso era preparado com os restos de carne de outros pratos nobres, evoluindo ao longo do tempo para o que hoje conhecemos como feijoada.


Não é surpreendente que este prato não se limite ao Brasil, mas tenha se espalhado por muitos outros territórios onde os portugueses deixaram a sua influência, para além do Brasil.

A feijoada pode ser encontrada em alguns países africanos, em Timor e até mesmo em Macau, todos com as suas próprias interpretações.

Hoje em dia, cada país imprime o seu toque pessoal à feijoada. No Brasil, por exemplo, a preferência recai sobre o uso de feijão preto, enquanto em Portugal, são os feijões vermelhos e brancos que predominam nas receitas. A feijoada, com a sua longa história e variadas versões, é um testemunho da influência culinária portuguesa que se estende muito além das fronteiras lusitanas.


3 - Kasutera

Os portugueses são conhecidos pelo uso generoso de gemas de ovo na sua culinária, sobretudo quando se trata de sobremesas. Foi Portugal que deu início à exploração do Japão, e é curioso notar que um dos doces mais apreciados no país nipónico até aos dias de hoje, o Kasutera, tem as suas raízes no pão-de-ló português.

Há alguns séculos atrás, em Portugal, esta sobremesa era denominada "Pão de Castela", fazendo referência ao Reino de Castela na Península Ibérica, que mais tarde tornar-se-ia parte de Espanha. A ligação entre os nomes Castela e Kasutera é evidente e reveladora.

Sempre que se depara com sobremesas de um dourado amarelado em algum lugar da Ásia, é lógico associar a sua introdução e popularização à presença portuguesa, uma vez que a utilização de gemas de ovo em sobremesas não faz parte da tradição culinária dessa região do mundo.


4 - Vindaloo

O vindaloo indiano é uma evolução da carne vinha d'alhos portuguesa. Mais do que um prato, a vinha d'alhos é uma técnica de marinada que, como o nome sugere, envolve a carne em vinho e alho

Quando os portugueses chegaram à Índia e se estabeleceram em Goa e em territórios circundantes, fundando o Estado Português da Índia, naturalmente trouxeram consigo os seus costumes culinários. Contudo, uma vez que o vinho não era um ingrediente comum naquele subcontinente, adaptaram a marinada, utilizando vinagre de palma para temperar a carne. Além do alho, ao estilo indiano, diversas especiarias começaram gradualmente a enriquecer as receitas de carne.

Na verdade, os próprios portugueses foram responsáveis pela introdução das malaguetas, nativas da América Central, na Índia e em outras partes da Ásia. Isso leva-nos a refletir sobre a influência dos portugueses na gastronomia asiática, que hoje é famosa pela riqueza de especiarias. A combinação das técnicas culinárias portuguesas e indianas nas cozinhas de Goa deu origem ao caril de carne que hoje reconhecemos como vindaloo.


Se alguma vez tiver a oportunidade em Portugal, recomendamos que experimente a Carne Vinha d'Alhos, não apenas para apreciar as diferenças, mas também para compreender a origem de um dos pratos mais icónicos da culinária indiana.


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